top of page

terapia
afirmativa

 

o que é?

“O terapeuta que atua em Terapia Afirmativa é aquele cujas crenças e valores consideram a homossexualidade e a bissexualidade como orientações sexuais válidas e ricas, sendo a homofobia, e não a diversidade sexual, a patologia.


O terapeuta oferece a seu cliente respeito por sua sexualidade, integridade pessoal, cultura e estilo de vida.
Necessita ser treinado ou re-treinado com os objetivos de explorar e validar seus sentimentos em relação à homossexualidade; de examinar e de trabalhar suas atitudes sobre a questão; de aumentar sua consciência e compreensão sobre questões como a homofobia, o processo de se assumir e os relacionamentos com pessoas do mesmo sexo. E de aprofundar seu conhecimento sobre a sexualidade humana.


O terapeuta deve se manter atento a seu próprio poder como autoridade diante do cliente e à forma como o utiliza, evitando reforçar mensagens negativas e procurando ser afirmativo na relação terapêutica.


Possui um papel importante como educador, de outros profissionais em temas como diversidade sexual, homofobia e saúde mental, e de clientes, por meio, por exemplo, da indicação de bibliografia e da educação sobre sexo seguro.”


Extraído de Davies, D.Towards a model of gay affirmative therapy. In Davies, D & Neal, C. Pink Therapy: A Guide for counselors and Therapists working with Lesbian, Gay and Bissexual Clients. Buckingham, Open University Press, 1996

por que

A terapia afirmativa para gays: por que o foco?


Desde que iniciei meu trabalho me especializando em aconselhamento, e como um profissional que atua em terapia afirmativa para gays, lésbicas e bissexuais, aonde quer que eu vá, em conversas casuais ou palestras dirigidas, ouço sempre as mesmas perguntas: “Mas por que o foco?”, “Atender apenas homossexuais não é uma maneira de reforçar a discriminação e fortalecer o gueto?”, “Mas o que há de tão diferente assim? Afinal a orientação sexual não é apenas uma entre as várias características do indivíduo?”.


Ainda que para mim as respostas sejam óbvias, compreendo perfeitamente as dúvidas e até mesmo a certa descrença que meu trabalho gera, inclusive na própria comunidade homossexual.


Na realidade, a necessidade do foco e a visão de como desenvolver este trabalho também só ficaram mais claras para mim recentemente, como conseqüência de uma experiência pessoal.


Embora, ao longo dos últimos vinte anos, eu tenha me submetido a diferentes processos terapêuticos, estudado várias abordagens em terapia e participado de inúmeras vivências grupais, só fui perceber de forma inequívoca o poder transformador de um grupo formado apenas por gays ao participar de um wokshop no Esalen Institute, na Califórnia, em 1999.


Ali, juntamente com outros dezenove indivíduos, vindos de vários estados americanos e com histórias pessoais diferentes e diversas bagagens sociais e culturais, tive a oportunidade de, pela primeira vez, vivenciar de forma profunda e verdadeira um elo emocional e afetivo com pessoas até então desconhecidas. Foi como se, apesar da enorme diversidade entre nós, tivéssemos todos a mesma história.


Nós, homossexuais, crescemos nos sentindo mais sós do que a maioria dos heterossexuais. Crescemos sem um grupo de referência e, criados quase sempre por pais heterossexuais, não temos uma fonte de aceitação, compreensão e suporte emocional à qual recorrer. Desde cedo aprendemos que devemos esconder nossos sentimentos verdadeiros e desenvolver uma identidade pública diferente da nossa natureza interior.


Não temos modelos sociais para nos inspirar e morremos de medo das conseqüências imprevisíveis que nosso segredo, caso seja descoberto, possa acarretar. Não é à toa que pesquisas demonstram que o índice de suicídio entre adolescentes é muito mais alto entre jovens gays do que entre jovens heterossexuais.


A experiência de nos encontrarmos com outros indivíduos semelhantes e juntos podermos expressar sentimentos e compartilhar histórias em um ambiente seguro, acolhedor e confidencial tende a gerar uma forte conexão interpessoal, que comumente resulta em um impacto muito positivo na nossa auto-estima.


Com base na experiência pessoal que tive na Califórnia, fui me aprofundando na temática homossexual, ampliando minhas pesquisas e me envolvendo de forma ainda mais direta com a questão. Do ponto de vista do trabalho terapêutico, foi ficando cada vez mais claro que conhecer e compreender profundamente a dinâmica da orientação homossexual e as diferentes formas pelas quais essa dinâmica se manifesta ao longo do desenvolvimento individual pode fazer uma enorme diferença no resultado do processo de ajuda profissional. Saí dessa vivência mais do que nunca convencido da necessidade de um foco.


A terapia afirmativa parte do pressuposto de que todas as áreas da vida de um homossexual são impactadas por sua orientação homossexual. Desenvolvida inicialmente nos Estados Unidos, essa abordagem afirma que a identidade homossexual é uma expressão natural e positiva da sexualidade humana, tanto quanto a heterossexualidade; e que a homofobia, e não a homossexualidade, é que é a causa de grande parte dos conflitos vivenciados pelos homossexuais.


O psicólogo que atua em Terapia Afirmativa, independentemente de sua formação teórica e linha de trabalho, trata a orientação homossexual de maneira focalizada e positiva, buscando, antes de tudo, resgatar a auto-estima do indivíduo e fornecer-lhe suporte emocional para o desenvolvimento de uma identidade homossexual. De uma identidade homossexual que possa estar integrada às diversas áreas da vida do indivíduo.


Isso não significa desmerecer ou desqualificar abordagens não especializadas, mas reconhecer o valor adicional que a especialização pode trazer. São muitos os relatos de pacientes em terapia que se sentem incapazes de expressar de forma direta e objetiva suas angústias relacionadas a conflitos sobre orientação sexual, tanto em razão das dúvidas e da confusão sobre seus desejos e sentimentos como também por vergonha ou temor de se sentirem rejeitados pelo terapeuta.


Também são freqüentes relatos sobre terapeutas que, embora não discriminam a orientação homossexual, demonstram, às vezes de forma clara, às vezes de forma sutil, a crença numa superioridade sexual representada pela heterossexualidade.


Minha experiência clínica, no trabalho com grupos ou individual, e como educador, tanto por meio da internet como participando de palestras e debates, até o momento só tem confirmado e ampliado minha convicção de que o foco na orientação homossexual é altamente benéfica para o processo terapêutico do paciente homossexual.

bottom of page